A luz do livro "Lições de Arquitetura", de Herman Hertzberger, e de seus conceitos, deveríamos analisar um trajeto que partisse na Praça Sete, passasse pela rua dos Carijós e pela Galeria Ouvidor e findasse no Mercado Novo.
O "pirulito" da Praça Sete de Setembro possui grande potencial como forma convidativa, mas que acaba sendo aproveitado somente em situações excepcionais, como em manifestações ou celebrações, nas quais algumas pessoas sobem nos "andares" mais altos. Mas, no cotidiano, o movimento intenso desse cruzamento acaba dificultando o acesso ao obelisco e oprimindo em certo nível seu caráter convidativo.
Na rua dos Carijós é possível ver panos no chão com itens à venda. Hertzberger vai dizer que "O uso do espaço público por residentes, como se fosse 'privado', fortalece a demarcação por parte do usuário desta área aos olhos dos outros". Ou seja, os vendedores, colocando seus panos no chão e utilizando aquele lugar como privado, demarcam seus territórios num espaço, teoricamente, público. Ainda na rua, é possível ver essas duas pessoas utilizando da base desse prédio como uma forma de apoio tanto para suas coisas como para apoiar seu próprio corpo. Mostrando como essa base é uma forma convidativa.
Ao longo das calçadas da Av. Olegário Maciel, tem esses cubos maciços espalhados, e as pessoas podem se sentar nele ou usar como apoio para coisas, como uma mesa. No livro, o exemplo parecido são aquelas iluminações com um bloco de concreto em cima que Hertzberger diz que as pessoas começaram a usar para sentar, para fazer piqueniques, etc.
Ademais, no livro "Lições de Arquitetura", Hertzberger traz a ideia de que alguns espaços, dependendo de suas características e de como ele está sendo usado, podem se tornar mais acessíveis ao público, apesar de serem privados. Por exemplo, a Galeria Ouvidor, que apesar de ser um local privado, contendo um horário de funcionamento próprio, a ideia de passagem trazida por essa construção evidencia esse maior acesso ao público, se assemelhando, de certa maneira, à rua. A galeria possui duas entradas, então você pode utilizar esse espaço como um encurtamento de caminho, entrando pela rua São Paulo, por exemplo, e saindo pela rua Curitiba ou vice-versa. Ademais, Hertzberger também explica sobre como os materiais usados, as dimensões do espaço e sua forma podem reforçar que aquele local se trata de um espaço privado ou aproximá-lo do ambiente público. Nesse caso em específico, quando você entra na Galeria Ouvidor, você percebe que é um local privado, possuindo uma distância dos elementos presentes na rua, como exemplo pode-se citar o fato de que o nível da rua e da galeria não são os mesmos e as grades na entrada também reforçam a ideia de se tratar de um espaço privado.
A mesma ideia presente na Galeria Ouvidor de “o domínio privado se tornar publicamente mais acessível” pode ser vista também em outros locais, como no Mercado Central e no Mercado Novo. Essa utilização de várias entradas para o acesso intensifica essa percepção de um espaço privado se assemelhar ao público, pois ele é utilizado como passagem. Em uma parte do capítulo, quando Hertzberger descreve o Edifício de Escritórios Centraal Beheer, ele afirma que o fato de existirem várias saídas e entradas por todo complexo, faz com que essa construção se assemelhe mais a um trecho de uma cidade do que propriamente um edifício. Nessa perspectiva, é possível encaixar o Mercado Central e o Mercado Novo nesse conceito, dado que, apesar de ambos serem fechados e não receberam a luz natural da qual o Centraal Beheer usufrui, os dois possuem diferentes entradas e saídas, além dos seus vários corredores que se cruzam formando caminhos, isso faz com que ambos se aproximem mais do ambiente exterior diferentemente da Galeria Ouvidor citada anteriormente.
Além disso, na página 148, é escrito que “o essencial, portanto, é chegar em uma arquitetura que, quando os usuários decidirem dar-lhe um uso diferente do que foi originalmente concebido pelo arquiteto, não seja perturbada a ponto de perder sua identidade”. Paralelamente, na Rua dos Carijós há uma arquibancada, provavelmente construída com a intenção de ser um espaço para se sentar e conversar, porém, quando ela é utilizada também para vender, expor mercadorias e dormir, é posta à prova sua flexibilidade. E, como ela se adapta bem a esses usos, sem modificar ou perder sua identidade, ela é uma estrutura polivalente.
Em contrapartida, no cruzamento entre a Rua dos Carijós e a Rua São Paulo, foram construídas contenções esféricas para promover segurança contra acidente de veículos, todavia, quando alguém se senta sobre uma delas, testando sua flexibilidade, ela praticamente perde sua função original (uma vez que a vida de alguém está em risco) e tem sua identidade completamente modificada, fazendo com que essas contenções não sejam objetos polivalentes.
Nota-se também uma série de irregularidades por todo o trajeto, sobretudo nos meios-fios das calçadas, que por vezes são pequenos, excessivamente grandes ou inexistentes.
Na Galeria do ouvidor é possível visualizar outro conceito de Hertzberger, o de urdidura e trama, no entanto, para entender esses conceitos é necessário voltar ao sentido literal dessas palavras . A urdidura na tecelagem se trata de um conjunto de fios de mesmo tamanho posicionados longitudinalmente ao longo do tear que tem como principal função dar formato ao tecido e delimitar seu tamanho, já a trama é o que dá cor ao tecido e possibilita a criação de desenhos variados de acordo com a criatividade do tecelão. Na arquitetura, a estrutura da Galeria torna-se de certa maneira a urdidura delimitando o espaço que deve ser modificado, e a trama são as lojas que são organizadas e ornamentadas de acordo com a sua finalidade e expressão pessoal de seus proprietários , conferindo uma identidade ao todo com base na diversidade pluralidade.
Abaixo segue o link da apresentação, recomendo selecionar a opção "apresentar" para que haja as transições.
https://docs.google.com/presentation/d/1NHkJNYC1r1jFbG7CHeFtpqlGJBuY7sOQS49spT8K9CI/edit?usp=sharing
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